Shopping Popular Cuiabá

O Shopping

Antigamente conhecido como camelódromo ou mesmo "paraguaizinho", esse Shopping Popular foi criado em 21 de abril de 1995, em meio a conflitos, discussões e opiniões controversas, conta Misael Oliveira Galvão, presidente da Associação dos Camelôs do Shopping Popular.

No final dos anos 80 para o início dos anos 90, a economia do país estava indo de mal a pior e muitos pais de famílias acabaram sendo demitidos de seus empregos e não conseguindo voltar mais no mercado de trabalho, a opção que tiveram era ir para as ruas e tentar sobreviver no comércio informal, montaram suas barracas cada uma de um tipo de produto, e com isso as praças, ruas iam tomando forma, sendo cada vez mais ocupadas por este tipo de comércio, no centro da cidade, começou a virar “problema”, pois Cuiabá é uma cidade não planejada, então tinha pouco espaço nas calçadas, e cada vez mais, ocupadas pelos comerciantes autônomos.

Em 1992, já era aproximadamente 400 camelôs que trabalhavam normalmente no centro da cidade com suas barracas que a cada manhã, estavam posicionadas para um novo dia de trabalho. No entanto, neste período, a Prefeitura da Capital sob o comando do coronel José Meireles, iniciou um diálogo sobre a organização e retirada desses populares para novos locais apropriados, em uma tentativa de “organizar a cidade”. “Naquela época, eu era um líder de rua, não presidente, mas um líder que também era camelô e sabia das nossas preocupações. Houve muita discussão entre a prefeitura e a categoria dos camelôs, mas não houve entendimento. Ainda faltou diálogo de ambas as partes”, assegura.

Como as conversações não tinham retorno, já que a prefeitura tinha anseio de “organizar” a cidade e os vendedores ambulantes temiam que a mudança acarretasse diminuição das vendas e por conseqüência o comprometimento do sustento da família, a prefeitura se valeu de maior autoridade e fez a retirada dos camelôs do centro da cidade em 21 de abril de 1995, alojando-os onde hoje é o Shopping Popular. “A prefeitura usou força policial e todo o aparato para que nossas bancas não permanecessem no lugar e nós não tivemos outra alternativa, senão sair”, lembra.


O COMEÇO

Mesmo com protestos e confrontos com a polícia na qual alguns camelôs foram presos, outros aceitaram e alguns nem conseguiram e tiveram suas barracas apreendidas, tiveram que recorrer e buscar regularizar para poder se inserir junto aos outros, eles deixaram o centro de Cuiabá e foram encaminhados para aonde seriam sua “nova sede de trabalho”. Chegando a Avenida Beira-Rio, deram-se conta que o começo seria bem complicado. A única estrutura que havia no local, eram duas pequenas salas, dois banheiros, tudo sem cobertura ou mesmo piso. “Nós não tivemos direitos de poder reivindicar um novo local, mais estruturas, nada”, salienta.

Misael conta que percebendo que não haveria mudanças, resolveram, então, aceitar a medida, pois “se o único espaço que sobrou para nós foi esse aqui, então, iríamos fazer dele o melhor local para trabalhar, o melhor local para gerar emprego, o melhor local para se viver em sociedade comercial, pois acreditamos que podemos fazer do Shopping Popular uma referência para Mato Grosso e Brasil”, assegura.

Mas nada era simples como parecia. A vontade de mudar a situação era muita, mas as condições poucas, não somente de permanência no local como a conquista de melhorias na estruturação física do Shopping Popular, clientes então nem pensavam pois não existia linha de ônibus freqüentes para aquela região. O presidente da Associação, Misael expõe que além dos problemas, o preconceito quanto aos ambulantes e as próprias condições em que foram sujeitos a trabalhar eram uma das muitas dificuldades. “Teve muito sofrimento, quantas mercadorias perdidas, não vendiam, quantas enchentes sofremos aqui, por ser lugar de fácil alagamento quantas mercadorias nossas rodaram quantas barracas nossas perdemos, no início a cobertura era de lona, era calor, chuva, frio e era o problema a se enfrentar”, exemplifica.

Para dar a volta por cima das novas dificuldades, os vendedores ambulantes se uniram e resolveram, então, instituir uma associação que, de fato, os representasse. Assim, a Associação dos Camelôs do Shopping Popular foi criada, ainda em abril daquele ano.


ORGANIZAÇÃO E FORTALECIMENTO

Criada a associação, a intenção era organizar o novo espaço de trabalho para garantir melhorias, principalmente na infraestrutura que, no início era precária. Deste modo, foram instituídas além da própria associação, diretorias que pudessem administrar a nova empresa que seria o Shopping Popular.

O atual presidente da Associação, Misael Galvão, lembra que foi preciso mudar a mentalidade dos próprios camelôs, para que ali se mantivessem e não voltassem para as ruas. Para isso foi necessário manter um diálogo com a prefeitura, afinal, era preciso mais que dois banheiros e duas salas para fazer com que camelôs se tornassem microempreendedores. “Com uma conversa com a prefeitura, nós pagamos 50% e a prefeitura pagou 50% para melhorarmos a estrutura do shopping, principalmente no que se refere à cobertura, aí começaram a avançar as coisas”, afirma.

Ainda, que a união e o trabalho foram imprescindíveis para que o Shopping Popular se firmasse no mercado e construísse um resultado de muitas lutas lembra que. “Nós passamos a crer que a união faz a força, aí todo mundo passou a acreditar e fazer o seu cliente. Tudo resultado do próprio associado”, garante.

Por meio dessa união, muitos benefícios foram concedidos aos vendedores ambulantes, e não somente em Mato Grosso, mas a nível nacional. De acordo com Misael Galvão, a criação e oficialização da Cooperativa de Compras do Comércio Popular de Mato Grosso (Coocomp/MT) por parte do Governo do Estado foi um dos avanços que possibilitou com que o Shopping Popular se tornasse o que ele é hoje.

Ele conta que em janeiro de 2006, a Coocomp/MT, surgiu como a primeira cooperativa de camelôs do país com a finalidade de viabilizar compras legalmente no exterior, por meio da resolução 017 instituída pelo governo estadual. Misael faz questão de lembrar que há anos existem as lutas para legalizar a atividade em Mato Grosso e que muitos avanços já foram conquistados, a exemplo da própria cooperativa. “Fomos os primeiros camelôs do país a deflagrar uma campanha pela legalização da atividade”, destaca o presidente.

A partir de então, iniciou-se a história da legalização da compra a que deixássemos de ser considerados como “contrabandistas” e que conquistou repercussão nacional. Houveram audiências públicas na Assembléia Legislativa, várias reuniões com o então governador do Estado, do ano de 2007 e a situação dos vendedores ambulantes começou a deslanchar e melhorar.


DE CAMELÔ, A REPRESENTANTE DA CLASSE

Ex-bancário que ficou desempregado, Misael Galvão tornou-se camelô e viu ali seu sustento. Sempre ligado a melhoria da classe, se envolveu nas questões sobre a criação do Shopping Popular e logo passou a se tornar representante dos vendedores ambulantes. Disputou a primeira eleição para presidência da associação em 1995 e foi eleito.

Permaneceu na presidência por seis mandatos deixando o cargo, apenas nos anos de 2002 a 2004, único período em que não venceu as eleições. Paralelo a sua história de vida, a busca por melhorias não somente para classe dos vendedores ambulantes, mas também para os clientes era tanta que qualquer passo que havia no sentido de melhoria era muito comemorado.


TRABALHO, SOBREVIVÊNCIA E LEGALIDADE

Passado um ano da criação do comitê, 2007, o grito de vitória poderia ecoar das gargantas dos vendedores ambulantes. O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva publicou a Medida Provisória nº 380 instituindo Regime de Tributação Unificada - RTU, na importação de mercadorias do Paraguai e que garantiu a Cooperativa de Compras do Comércio Popular (Coocomp/MT), pois a lei permite a importação, por via terrestre, de mercadorias procedentes do Paraguai, mediante o pagamento unificado de impostos e contribuições federais incidentes.

Assim sendo, a medida provisória beneficiou microempresários optantes pelo programa Simples Nacional que, no ato de importação, devem pagar impostos e contribuições federais incidentes da importação como o imposto de importação, imposto sobre produtos industrializados, contribuição para o financiamento da seguridade social incidente na importação (Cofins) e contribuição para o PIS/PASEP incidente na importação, por exemplo.

“Essa medida provisória foi para legalizar a lei do sacoleiro, depois foi para o Congresso, para a Câmara dos Deputados, para o Senado. Tudo nascido aqui”, salienta Misael completando que em janeiro de 2009, o ex-presidente Lula sancionou a Lei 11.898, a chamada Lei dos Sacoleiros, instituindo a obrigatoriedade do RTU.

Misael assegura que desde a aplicação da lei foi possível que muitos camelôs se tornassem empreendedores e puderam realmente mudar de vida. “A evolução das pessoas foi muito grande. Cerca de 90% dos ambulantes já são legalizados. A nossa meta para 2014 é fecharmos com 100% de legalização. Assim, eles podem ter sua empresa, pagar seu CNPJ, ter seus funcionários. É ter uma empresa real”, afirma.

Diante de tantas lutas, vontade de crescer e fazer diferente, o Shopping Popular, enfim, pode se consolidar no mercado e mostrar para a população que diferente do que se imaginam, os produtos em sua maioria são legais, certificados e com garantia. Isso trás mais segurança e aqueles que deixaram de ser vendedores ambulantes e passaram a ser empreendedores. “Tudo valeu a pena, a classe amadureceu muito. A classe ganhou muito, ela esta organizada, fortalecida, tem representatividade. Hoje qualquer associado pode chegar ao banco e dizer que trabalha no Shopping Popular com orgulho”, garante.

Além disso, a própria sociedade também ajudou a solidificar o nome do Shopping Popular no cenário do comércio popular. Conta Misael, que ela passou a olhar os vendedores ambulantes com outro olhar. “A nossa questão era trabalho, sobrevivência e legalidade. Desde que começamos aqui sempre lutamos para nossa legalidade. Ser reconhecido, podermos ter nossa empresa e pagarmos nossos impostos”, garante.

O presidente da associação conta que depois de muito trabalho de própria divulgação do Shopping Popular, a sociedade passou a respeitar, a dar créditos aos produtos, a comprá-los e a freqüentar o shopping, que atualmente é comercializado entre todas as classes, segundo Misael.


EMPREENDEDORES E EXEMPLOS DE VIDA

Mais que história da construção e consolidação do Shopping Popular no segmento de comércio popular, a história que deve e merece ser exaltada são dos ex-vendedores ambulantes, que hoje são empreendedores. Porque é com eles e por eles que o Shopping Popular existe, inclusive alguns deles permanecem trabalhando no segmento até hoje.


PROJETOS FUTUROS

Para todos os gostos, estilos e bolsos, o comércio popular é um dos mais movimentados e atraentes para os clientes. Com produtos com menores valores, qualidade semelhante e uma infinita variedade de marcas, esse tipo de comércio vem se ampliando e já é uma referência na hora de comprar mais pensando em gastar menos, principalmente em Cuiabá, local onde as compras já têm lugar certo de serem feitas: no Shopping Popular.

Com muita luta e sonho a ser cumprido a Associação juntamente com o poder público a prefeitura realizou uma Concessão de 30 anos dos 10 mil metros de área para a associação para que se possa construir o novo Shopping Popular. E este é o começo de uma nova realidade para os empreendedores que já lutaram tanto por melhorias, segundo Misael. “Quando eu olho para trás, eu vejo o quanto à evolução foi tão grande e eu agradeço a Deus todos os dias da minha vida por fazer aquilo que eu gosto e minha maior felicidade e realização é o fortalecimento da família e de pessoas aqui que não tinham nada e que hoje, com o trabalho, têm tudo!”, finaliza.

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